Minha vida virou do avesso

Minha vida virou do avesso

Talvez você nem imagine ou talvez tenha apenas uma pequena noção do quanto a minha vida mudou. Há exatos dois anos, vim aqui contar sobre uma realização gigante: a mudança da casa dos meus pais para meu primeiro apartamento morando sozinha.

Foi um período fantástico! No primeiro ano vivi um turbilhão de emoções. Me senti realizada por cada detalhe do meu cantinho que consegui - com muita ajuda - construir, me cerquei de muitos amigos e amigas, fiz festinhas, encontros, me conectei com novas pessoas e retomei conexões também. Foi um ano sensacional! Até que a euforia passou. Com o passar dos meses, toda a emoção foi tomada por um vazio. E aos poucos ele foi crescendo, crescendo... até que o silêncio ficou ensurdecedor.

Foram muitas noites em claro. Dias que passavam tão rápido e ao mesmo tempo tão lentos. Comecei a me sentir realmente sozinha. De um jeito nunca antes percebido. Um jeito que chegava a doer. Na intimidade, quantas vezes me perguntei se queria mesmo uma vida só.

Nunca quis.

Achei uma solução! Preencher o vazio com trabalho. Muito trabalho. Trabalho para todos os lados. A marca, os freelas, tudo que aparecesse para aproveitar a vida solo e trabalhar muito. Pensei: é uma boa fase, vou me encher de trabalho e aproveitar enquanto não tenho marido, filhos.

Claro, o vazio continuou ali. Silencioso e ensurdecedor.

Eu já não conseguia entender o que estava sentindo. Onde foi parar a alegria em morar sozinha?

Nunca soube responder... amo meu cantinho, mas não sei se estou feliz. Desejei mudar minha vida, repensar meus caminhos, recalcular a rota. Desejei tão forte que esqueci o quão poderoso podem ser nossos pensamentos. E, como numa magia inesperada, logo chegou a mensagem:

- Precisarei do apartamento. Pode se organizar para sair em 60 dias.

Meu mundo desabou. Como se tudo que importasse naquele momento estivesse ali dentro do apartamento 1004. Nada mais serviria... nenhum outro apartamento, localização, nada me parecia tão maravilhoso quanto morar ali. Mais noites em claro até que um mês depois surgiu uma luz. Essa que estava ali, cara-a-cara o tempo todo mas que insisti fingir não enxergar.

Assumi meu desejo. Recalculei a rota. Peguei minha mala e voltei para o aconchego dos meus pais. É temporário, afirmei, só não me preocupo por quanto tempo.

***

Quando digo que me sinto mais feliz do que imaginam é porque sei o quanto desejei esse colo no último ano. Em meio ao turbilhão de emoções, essa foi a alternativa que me trouxe paz. Entender que desejei por isso e assumir que eu queria foi mais fácil do que imaginei. Ouvi de muitos para não levar como um fracasso ou um passo pra trás... Pessoal, me escutem! Não levo e nem levarei! Meu sentimento é de extrema gratidão por ter o privilégio e o conforto de poder tomar essa decisão com tanto apoio familiar.

Vivi dois anos de um crescimento às vezes dolorido, mas extraordinário. Hoje retomo ao lar dos meus pais em uma nova fase. Mais madura e pronta para trilhar novos caminhos. Tenho inúmeros planos, mas cada dia que passa me fortaleço em abrir o coração para as oportunidades [in]esperadas que a vida nos apresenta.

Deixei nos capítulos anteriores o antigo lar e, agora, começo escrever uma nova história no cantinho que também sonhei: meu ateliê.

Com amor,

Lulu <3

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